Hamas retoma negociações com mediadores para tentar ressuscitar cessar-fogo em Gaza

por Mariana Ribeiro Soares - RTP
Ramadan Abed - Reuters

Fontes palestinianas próximas do Hamas afirmaram, na quinta-feira, que as negociações entre o movimento e mediadores egípcios e cataris foram retomadas com vista a reativar um cessar-fogo e um acordo para a troca de prisioneiros palestinianos por reféns em Gaza. No entanto, estima-se que nenhum avanço tenha sido feito até ao momento.

"Começou esta noite uma reunião entre a delegação egípcia responsável pelas negociações em Doha e uma delegação do Hamas com o objetivo de finalizar um cessar-fogo", disse uma fonte palestiniana próxima do grupo armado citada pela AFP, acrescentando que mediadores do Catar também estiveram envolvidos nas discussões.

As negociações estão a focar-se na possibilidade de estabelecer uma trégua durante o Eid al-Fitr, feriado muçulmano que marca o fim do Ramadão que começa no próximo domingo, e na Páscoa, bem como na retoma da entrada de ajuda humanitária na Faixa de Gaza, disse a mesma fonte.

"Os mediadores estão a manter discussões intensivas com todas as partes para selar um cessar-fogo e avançar para a segunda fase do acordo", acrescentou a mesma fonte, sublinhando que o Hamas manifestou a sua disponibilidade para responder "positivamente" a qualquer proposta que ponha fim aos combates.

Outra fonte próxima do Hamas indicou que, apesar das negociações, “nenhum avanço” foi feito até ao momento.

De acordo com a Al-Qahera News, um meio de comunicação ligado ao Estado egípcio, os mediadores estão a tentar "garantir a libertação de prisioneiros e reféns como parte de uma fase de transição".

As negociações deverão também focar-se na "entrada de ajuda humanitária na Faixa de Gaza em preparação para a transição para a segunda fase do acordo de cessar-fogo permanente", acrescentou o canal.
Hamas ameaça entregar reféns “em caixões”
As negociações indiretas entre o Hamas e Israel, lideradas pelo Egito, Catar e Estados Unidos, para prolongar a trégua que entrou em vigor a 19 de janeiro, estão estagnadas desde o fim da primeira fase do cessar-fogo, a 1 de março.

Israel e o Hamas estão num impasse, não chegando a um entendimento sobre como prosseguir o acordo de tréguas. O Hamas quer passar à segunda fase do acordo, que prevê um cessar-fogo permanente, a retirada das tropas israelitas de Gaza, a retoma do envio de ajuda humanitária e a libertação dos restantes reféns.

Israel, por seu turno, quer que a primeira fase seja prolongada até meados de abril para que mais reféns sejam libertados e exige a "desmilitarização" de Gaza e a saída do Hamas antes de passar à segunda fase. O Hamas não aceitou a proposta e insiste que seja cumprido o acordo inicial.

A situação complicou-se a 18 de março, quando Israel quebrou o cessar-fogo e retomou os bombardeamentos na Faixa de Gaza. Desde esse dia, pelo menos 855 palestinianos foram mortos no território sitiado e devastado, de acordo com o Ministério da Saúde do Hamas.

Telavive exige a entrega dos reféns que ainda estão na posse do Hamas para suspender os ataques em Gaza. Na quarta-feira, o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, ameaçou tomar mais zonas de Gaza se o Hamas não libertasse os restantes reféns. Dos 251 reféns feitos durante o ataque do Hamas a Israel, a 7 de outubro de 2023, 58 continuam detidos em Gaza, 34 dos quais estão mortos, segundo o exército israelita.

Por sua vez, o movimento islâmico-palestiniano recusa ceder à pressão e avisou que estes reféns regressariam "em caixões" se Israel não parasse de bombardear Gaza.

À medida que o impasse prossegue, aumenta o descontentamento dos palestinianos em Gaza contra o Hamas. Na terça e quarta-feira, centenas de palestinianos saíram às ruas numa rara demonstração pública de oposição a exigir a saída do movimento islâmico do enclave e o fim do conflito com Israel.

De acordo com a ONU, as recentes operações israelitas fizeram mais 142 mil deslocados em sete dias. A organização das Nações Unidas alertou também que tem apenas duas semanas de ajuda alimentar restante em Gaza, depois de Israel ter interrompido a entrada de ajuda humanitária a 2 de março.

c/ agências
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